A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
★★★☆☆
O cinema explorou abundantemente a crise financeira de 2007/2008, abrangendo muitos pontos de vista, desde o topo do mercado (A Queda de Wall Street, de Adam McKay) até à base (99 Casas, de Ramin Bahrani), passando pelo olhar de insiders privilegiados (Comportem-se como Adultos, de Costa-Gavras). A série italiana Devils (HBO) chega tarde ao tema e tem pouco de muito novo ou fresco para apresentar. O enredo passa-se num banco ficcional sediado em Londres e o protagonista é o seu ambicioso director comercial, Massimo Ruggero (Alessandro Borghi).
Devils parece ir ser uma história de invejas, vinganças e luta pelo poder dentro de uma instituição financeira, mas o argumento dá um golpe de rins e a série torna-se num thriller de ressonâncias político-conspiratórias a nível mundial, envolvendo a Primavera Árabe e uma organização moldada sobre a Wikileaks. O realizador Nick Hurran abusa dos tiques visuais vistos e revistos nos filmes sobre esta crise (montagens rápidas de imagens de abundância, pobreza, líderes mundiais e indigentes, câmara lenta a despropósito, legendas explicativas sobre as imagens, etc.) e os solilóquios de Massimo são de um ridículo presunçoso, mas mesmo assim o investimento da nossa atenção em Devils dá juros. Modestos, mas aceitáveis.
