A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
★★☆☆☆
Ver uma boa série é como ter boa companhia. Queremos estar com as personagens e passar o tempo com elas, interessamo-nos pelas suas histórias e vidas e pelo modo como se relacionam e se movimentam pelos mundos em que os seus criadores as situaram. Personagens fortes, cativantes e substanciais são mais do que meio caminho andado para uma série vingar.
O que não falta são personagens a Vento Norte (RTP1, Qua 21.00/ RTP Play), e interpretadas por bons e competentes actores. A série passa-se em Braga (e é bom ver a nossa ficção televisiva sair de Lisboa), entre o final da I Guerra Mundial e o golpe militar de 28 de Maio de 1926, e é uma daquelas sagas familiares e sociais tendo como pano de fundo tempos agitados, que já deram momentos memoráveis à história da televisão.
Mas não há ali uma personagem que nos prenda, envolva ou atraia o suficiente para querermos saber o que lhe vai acontecer. São estereotipadas, unidimensionais ou previsíveis, e não as ajuda nada, nem à história, o facto de Vento Norte apresentar ainda um problema de ritmo e de falta de vigor. Cada episódio tem quase 50 minutos mas parece durar o dobro, a intriga arrasta os pés, a direcção de actores é frouxa e falta chama, vivacidade, intensidade à narração. Em vez de nortada, temos uma brisa.