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Chick Corea
Photograph: Andrew ElliottChick Corea

Dez versões de “Chega de Saudade”

Foi a canção oficial do nascimento da bossa nova, em Agosto de 1958, e foi alvo de numerosas e variadas leituras.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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O termo “bossa nova” terá sido cunhado em 1957, quando de um concerto do Grupo Universitário Hebraico, pelo jornalista Moisés Fuks, para designar uma mescla de samba e jazz – em particular de cool jazz – que andava a pairar no ar do Rio de Janeiro já há algum tempo, mas o momento inaugural da bossa nova costuma ser associado à gravação de “Chega de Saudade”, por João Gilberto, a 10 de Julho de 1958, ou à edição, em Agosto de 1958, do single “Chega de Saudade”/“Bim Bom”.

A canção, da autoria de Antônio Carlos Jobim (música) e Vinicius de Moraes (letra), conquistaria os EUA, frequentemente na versão inglesa, com o título “No More Blues”, e seria adoptada por vários músicos de jazz, sobretudo durante a febre da bossa nova que alastrou nos EUA no início da década de 1960.

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Dez versões de “Chega de Saudade”

Elizeth Cardoso

Ano de gravação: 1958
Álbum: Canção do Amor Demais (Festa)

Na verdade, a gravação de “Chega de Saudade” por João Gilberto não foi a primeira: Elizeth Cardoso gravara a canção em Abril de 1958 e incluíra-a no álbum Canção do Amor Demais, lançado em Maio. O disco, que continha 13 canções rubricadas por Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes (em parceria ou separadamente) e em que João Gilberto colaborou, tocando violão nalgumas faixas, é hoje reconhecido como um marco na história da bossa nova, embora não tenha despertado atenção na altura.

João Gilberto

Ano de gravação: 1958
Álbum: Chega de Saudade (Odeon)

A versão do single “Chega de Saudade”/“Bim Bom”, ressurgiria no álbum de estreia de Gilberto, Chega de Saudade, lançado no ano seguinte e que é considerado o álbum fundador da bossa nova. Há que reconhecer que a versão despojada e intimista de “Chega de Saudade” por Gilberto é mais original e tocante e faz mais justiça ao espírito do género do que a de Elizeth Cardoso.

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Jon Hendricks

Ano de gravação: 1961
Álbum: ¡Salud! João Gilberto, Originator of the Bossa Nova (Reprise)

Embora o crédito pela eclosão da voga da bossa nova nos EUA seja atribuído ao álbum Jazz Samba, pelo saxofonista Stan Getz e o guitarrista Charlie Byrd, não foi ele o primeiro a divulgar a bossa nova nos EUA. Um dos pioneiros que passou despercebido foi o cantor Jon Hendricks, que em 1961 lançou ¡Salud!, um álbum de homenagem a João Gilberto. Apesar da boa intenção de homenagear um colega, ao escolher o título Hendricks baralhou a geografia ou presumiu que a sul do Rio Grande toda a gente falava espanhol. Ao ouvir a sua versão da canção, hirta e sem graça, não é difícil perceber a razão de esta incursão pioneira na bossa nova não ter despertado a atenção, apesar de o disco contar com jazzmen de prestígio, como Conte Candoli e Buddy Collette, e arranjos de cordas por Tom Jobim.

Stan Getz

Ano de gravação: 1962
Álbum: Big Band Bossa Nova (Verve)

Big Band Bossa Nova foi gravado em Agosto de 1962 e lançado em Outubro, a fim de capitalizar o inesperado sucesso de Jazz Samba, lançado poucos meses antes. O disco dá a ouvir Getz enquadrado pela orquestra de Gary McFarland, que foi também o arranjador.

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Charlie Byrd

Ano de gravação: 1963
Álbum: Once More! Charlie Byrd’s Bossa Nova (Riverside)

Stan Getz foi a face mais visível do casamento do jazz com a bossa nova, mas foi o guitarrista Charlie Byrd quem alertou o saxofonista para o que estava a acontecer a sul do Equador. Embora não tenha sido o “descobridor do Brasil” entre os jazzmen norte-americanos, foi Byrd quem, após uma tournée sul-americana em 1961, promovida pelo Departamento de Estado americano, encontrou Getz no clube Showboat Lounge, em Washington D.C., e o convidou a ir a sua casa ouvir os discos de bossa nova que adquirira no Brasil (que os leitores com menos de 30 anos não estranhem: era assim que a música se difundia antes de haver YouTube).

É, pois, natural, que Byrd tivesse capitalizado o seu pioneirismo e tivesse gravado vários álbuns com repertório bossa nova, como Latin Impressions (1962), Bossa Nova Pelos Pássaros (1962) e Once More! Charlie Byrd’s Bossa Nova (1963), para a Riverside, e Brazilian Byrd (1965), para a Columbia. No disco de 1963, Byrd é acompanhado por Gene Byrd (guitarra, contrabaixo), Keter Betts (contrabaixo), Buddy Deppenschmidt e Bill Reichenbach (bateria e percussão), complementados por trompa e violoncelos nalgumas faixas (como “Chega de Saudade”).

Antônio Carlos Jobim

Ano de gravação: 1963
Álbum: The Composer of Desafinado, Plays (Verve) Com os músicos de jazz a correr para os estúdios para registar as suas interpretações da “música da moda”, Creed Taylor, o produtor de Verve, decidiu recorrer ao “produto genuíno” e convidou Antônio Carlos Jobim a estrear-se no mercado americano com um álbum de versões instrumentais de êxitos da bossa nova (maioritariamente de sua autoria), em que toca piano e guitarra e é acompanhado por uma orquestra arranjada por Claus Ogerman.

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Dizzy Gillespie

Ano de gravação: 1966

Gillespie é dos jazzmen que pode reivindicar maior legitimidade para se apropriar da bossa nova, uma vez que a sua paixão pela música latina antecedia a voga desencadeada pelo êxito do álbum Jazz Samba. Na verdade, o pendor latino de Gillespie era duradouro e sincero, ao contrário de colegas seus cujo efémero namoro com a bossa nova, em 1962-64, foi sobretudo oportunista. Neste registo ao vivo, o quinteto de Gillespie, com James Moody (saxofone), Kenny Barron (piano), Christopher White (contrabaixo) e Rudy Collins (bateria), expande a singela canção para os 10’30 de duração, com solos de quase todos os membros da banda.

Joe Henderson

Ano de gravação: 1994
Álbum: Double Rainbow (Verve) Três décadas após o auge da febre da bossa nova, o saxofonista Joe Henderson consagrou todo o álbum Double Rainbow às composições de Antônio Carlos Jobim, entre as quais está, sob o título inglês, “Chega de Saudade”. A equipa é de luxo – Herbie Hancock (piano), Christian McBride (contrabaixo) e Jack DeJohnette (bateria) – e o efervescente solo de piano está bem afastado da melancolia e “low profile” da canção original.

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Morelenbaum2/Sakamoto

Ano de gravação: 2002
Álbum: A Day in New York (Sony)

As versões pop mais recentes dos clássicos da bossa nova raramente conseguem captar a essência deste género musical, mas a aliança do casal Paula Morelenbaum (voz) e Jaques Morelenbaum (violoncelo) com o pianista Ryuichi Sakamoto conseguiu obter um precioso equilíbrio entre fragilidade, elegância, sofisticação, depuração e melancolia que recupera o charme nas gravações de há meio século. Em 2001 surgiram os álbuns Live in Tokyo e Casa e, dois anos depois, A Day in New York, registado ao vivo em estúdio a 7 de Novembro de 2001, maioritariamente preenchidos com canções de Tom Jobim.

Em A Day in New York o trio é complementado por Luiz Brasil (guitarra) e Marcelo Costa (bateria, percussão).

Chick Corea & Gary Burton

Ano de gravação: 2011

Chick Corea e Gary Burton juntaram-se pela primeira vez em 1972 para gravar Crystal Silence, para a ECM e voltaram a reunir-se várias vezes ao longo das suas prolíficas e longas carreiras, dando origem a álbuns como Duet (1978, ECM), In Concert (1979, ECM), Lyric Suite for Sextet (1982, ECM) e New Crystal Silence (2007, Concord). “Chega de Saudade” surge no opus 7 da sua parceria, Hot House, gravado em 2012 para a Concord, mas esta versão foi captada ao vivo um ano antes, no Internationale Jazzwoche, em Burghausen, na Alemanha.

O melhor da bossa nova (em versões)

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