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Camané
©Arlindo CamachoCamané é um dos protagonistas do Fado no Castelo

Fado no Castelo: escrever fado com quatro cês

O Fado no Castelo é um dos pontos altos das Festas de Lisboa. Este ano há Carlos do Carmo, Carminho, Camané e convidados

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Os concertos de Fado no Castelo são sempre um dos pontos altos do programa das Festas de Lisboa. Este ano decorrem entre quinta-feira e sábado, no Castelo de São Jorge, com entrada livre, e são protagonizados pelos três mais conhecidos fadistas cujos nomes começam por “C”. Não podemos provar que isto não seja só uma feliz coincidência, mas podemos garantir que não se vai ouvir melhor fado do que o cantado por Carlos do Carmo, Carminho e Camané, com os convidados Antonio Serrano, Filipe Cunha Monteiro e Laurent Filipe. E é provável que se oiçam umas quantas canções novas pela primeira vez.

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Fado no Castelo: escrever fado com quatro cês

Carlos do Carmo & Antonio Serrano
©José Frade

Carlos do Carmo & Antonio Serrano

Não será exagerado escrever que Carlos do Carmo é o mais importante e influente fadista no activo. A trabalhar desde 1963, cantou fados e assinou discos que marcaram a história do género e de Portugal e continua a ser uma voz relevante e inconfundível, pelo que o lançamento de um novo disco dele é invariavelmente uma boa notícia. Ora, temos boas notícias. Quando ligámos a Carlos do Carmo para falar sobre o concerto de quinta-feira ele não atendeu. Ligou de volta passado um bocado, e pediu desculpa por não ter atendido, mas havia uma boa razão: estava em estúdio, a gravar um novo disco, talvez para lançar este ano, apesar de ele não se querer comprometer com uma data. E no Castelo de São Jorge vamos ouvir duas canções em primeira mão. Passemos a palavra a quem lhes dá voz: “Um dos poemas é do Vasco Graça Moura. O meu amigo Vasco tinha o hábito de me entregar em mão poemas e este foi o último que ele me entregou. O outro é de uma pessoa que eu canto pela primeira vez, e que presumo que não seja muito cantada no fado, que é a Hélia Correia. Acho que é saudável trazer para o fado pessoas que não estão normalmente no fado. Gosto de fazer isso.”

Mas não é só isto que faz do concerto especial. Carlos do Carmo, já se sabe desde que este programa foi anunciado, vai ser acompanhado por Antonio Serrano, o maior harmonicista espanhol, ex-acompanhante de Paco de Lucía e com quem Carlos do Carmo já partilhou o palco em mais de uma ocasião. E não é o único convidado. “Também vai tocar o clarinetista português João Santos. Um grande músico. Só não foi anunciado logo por um problema de timing.” A acompanhá-los estarão ainda Luís Guerreiro, na guitarra, Rogério Ferreira, na viola, e Marino de Freitas, no baixo.

Castelo de São Jorge. Quinta-feira, 22.00, entrada livre.

Carmino & Filipe Cunha Monteiro

Carmino & Filipe Cunha Monteiro

O multi-instrumentista Filipe Cunha Monteiro, que se apresenta a solo como Tomara, tocou a 24 de Novembro do ano passado no festival Vodafone Mexefest. Tinha editado meses antes o primeiro disco, Favourite Ghost, e uma das pessoas que estava a vê-lo, na Sala Ermelinda de Freitas do Palácio Foz, era a fadista Carminho. E se estamos a falar disto, é porque ela ficou bem impressionada. “Entusiasmada, mesmo”, diz. Vai daí, passado algum tempo, desafiou-o para se juntar a ela neste concerto no Castelo de São Jorge. Entretanto já fizeram alguns ensaios, e na sexta vamos ver e ouvir os resultados. “Ele vai estar quase sempre em palco comigo. O convite foi com o objectivo de encontrar alguém que se entrosasse no meu repertório”, conta. No repertório e na sua banda, que inclui também Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, Fábio César Cardoso, na viola, Marino de Freitas, no baixo, e Ivo Costa, na percussão.

O repertório do concerto vai ser, obviamente, o de Carminho, que conhecemos dos discos Fado (2009), Alma (2012) e Canto (2014). Do álbum mais recente, Carminho canta Tom Jobim, de 2016, só uma coisa ou outra. Se tanto. “O disco do Tom Jobim teve contornos muito próprios pela banda que me acompanhava. Portanto apesar de haver uma interpretação de um ou outro tema com a minha banda, é um momento mais ou menos fechado.” E novidades? Não se sabe. Mas Carminho encontra-se em estúdio a gravar um novo disco. Quem sabe se não há surpresas.

Castelo de São Jorge. Sexta-feira, 22.00, entrada livre.

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Camané & Laurent Filipe
©Arlindo Camacho

Camané & Laurent Filipe

O que faz um trompetista e compositor com carreira feita no jazz, que tem no currículo colaborações com figuras como Maceo Parker ou Walter Perkins, entre outros, num concerto de Camané? Toca o fado, obviamente. “Acho interessante ter um trompetista nesta música, especialmente nalguns fados tradicionais. Já tinha vontade de fazer isto há um tempo”, assume o fadista, um dos melhores de Portugal, que no ano passado lançou o álbum Camané Canta Marceneiro, e convidou Laurent Filipe para o acompanhar no concerto deste sábado, no Castelo de São Jorge.

Não é estranho ver Camané colaborar com figuras extra-fado. Afinal, já o ouvimos cantar  David Bowie ao lado de outro David, o Fonseca, enrolar a sua voz nas cordas dos Dead Combo, e quem pode esquecer o projecto Humanos, onde juntamente com nomes grandes da pop nacional deu nova vida a canções de António Variações. O estranho é que, desta vez, ele não quer afastar-se de território fadista. “A ideia é integrar [o trompete] no fado mais fado. Sem ser ir buscar temas fora da minha música, para o meter lá. No Mouraria, no Menor, numa série deles”, assume. “É um instrumento que não é muito usado no fado, mas quase de certeza que vai ficar muito bem. Quem ouvir vai perceber que tudo pode acontecer.”

A ideia é Laurent Filipe colaborar em cerca de seis temas, mas quando falámos, na semana passada, o fadista ainda não tinha decidido em quais ao certo. A única certeza, na altura, era que ia ser um concerto um pouco diferente do que tem andado a fazer, em torno da música de Alfredo Marceneiro. “Vai ter um bocadinho de tudo. Como é ao ar livre tem um alinhamento distinto. Três ou quatro do Marceneiro e muitos do meu repertório.”

Castelo de São Jorge. Sábado, 22.00, entrada livre.

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