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Música, Post-Rock, Mono
©Chigi Kanbe/Facebook/MonoMono

Oito concertos do outro lado do mundo e do rock

As bandas de math-rock e pós-rock do Leste asiático são afamadas pela intensidade das suas actuações ao vivo, que raramente chegam cá

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Apesar da globalização, há mundos musicais que continuam a ter escassa comunicação: das oito bandas que se listam abaixo, só os Mono e os Jambinai actuaram em Portugal e, além deles, só os Toe têm feito incursões pela Europa e EUA e têm discos em editoras ocidentais. Portanto, mesmo que os aviões andassem a zumbir em torno dos aeroportos e as salas de concertos estivessem abertas, seria pouco provável que a maioria destas bandas viesse a surgir pelas nossas paragens e muitos dos seus fãs ocidentais têm de contentar-se com estes vídeos no YouTube.

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Oito concertos do outro lado do mundo e do rock

1. Toe

Data: 08.10.2018
Local: Sakuraza Café, Kofu, Japão

Os Toe, fundados em Tokyo há 20 anos, são uma banda pioneira do math-rock japonês, uma referência para todo o math-rock asiático e uma banda de culto para os fãs ocidentais de math-rock. A sua videografia inclui três DVDs ao vivo, mas no YouTube não faltam registos integrais de outros concertos seus, alguns deles com boa qualidade de imagem e som, como é o caso desta actuação em, Kofu, capital da prefeitura de Yamanashi.

O conceito de concerto dos Toe favorece o contacto com o público, pelo que frequentemente dispensam o palco e colocam-se ao mesmo nível dos espectadores, que se dispõem em torno da banda, a pouco mais de um braço de distância (a meio deste registo, um dos músicos convida o público a aproximar-se ainda mais). Por enquanto, a covid-19 interdita estas intimidades, mas, num mundo ideal, era assim que deveriam ser todas as experiências de música ao vivo.

2. Té

Data: 18.03.2007
Local: Shibuya O-Nest, Tokyo

Outra banda veterana do math-rock japonês, com uma intensidade ao vivo que causa calafrios. Este vídeo corresponde ao primeiro DVD da banda, editado em 2008 e cujo título é, numa tradução aproximada para inglês, “Music researchers should not try to distort the music. Play the music and guide it to the place where the music goes. Then, let the music itself study the music” (é possível que tenham ocorrido perdas apreciáveis na tradução para inglês, pelo que mais vale não introduzir mais ruído e distorção vertendo do inglês para português).

Esta arenga pode parecer bizarra, mas os títulos dos seus álbuns e composições são quase todos nesta linha – o tema que abre este concerto, por exemplo, intitula-se “It must be called ‘intelligence’ if people stop when they realize they are not able to become what they are wishing to be”. Portanto, mesmo que a banda atendesse pedidos do público, seria difícil que alguém conseguisse exprimi-lo por inteiro, ou sequer lembrar-se do nome do tema.

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3. Mono

Data: 08/09.05.2009
Local: The New York Society For Ethical Culture, Nova Iorque

Os Mono, fundados em 1999, são uma das bandas pioneiras do pós-rock nipónico e uma das mais populares bandas deste género no Ocidente. Têm uma dezena de álbuns de estúdio, que têm sido editados por etiquetas americanas como a Tzadik , a Temporary Residence ou a Pelagic Records.

Este registo corresponde ao CD+DVD ao vivo Holy Ground: NYC Live (Temporary Residence), gravado durante a tournée do álbum Hymn to the Immortal Wind (2009), que contou, neste concerto em particular, com The Wordless Music Orchestra, uma orquestra de câmara com 24 músicos, sob a direcção de Jeffrey Milarsky.

4. Mudy on the Sakuban

Data: 19.10.2014
Local: Zepp DiverCity, Tokyo

Os Mudy on the Sakuban, fundados em Nagoya em 2006, estão do lado mais tumultuoso e emotivo do math-rock, com três guitarras a criar texturas extraordinariamente densas e complexas. A banda não lança discos desde 2012, mas tem mantido actividade ao vivo.

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5. Tricot

Data: 24 de Setembro de 2019
Local: Tsutaya O-East, Tokyo

As Tricot nasceram em Kyoto em 2010 e têm como núcleo central as guitarristas Ikumi Nakajima e Motoko Kida e a baixista Hiromi Sagane. Após ter passado pelas mãos de duas mulheres, a bateria “mudou de sexo” em 2016, com a entrada de Yusuke Yoshida (que, a partir de 2017 passou a membro efectivo), mas como as raparigas estão em maioria, é apropriado que continue a designar-se a banda como “as Tricot”. Dito isto, e sem desprimor para as bateristas anteriores, a técnica e inventividade de Yoshida fizeram as Tricot ascender a um patamar superior.

Este concerto num dos mais populares clubes de Tokyo inclui 16 faixas mais dois encores.

6. Jyocho

Data: 7 de Julho de 2018
Local: Shibuya WWW, Tokyo

Após a dissolução dos Uchu Conbini, em 2015, após apenas três anos de vida e dois mini-LPs, Daijiro Nakagawa, o guitarrista e dínamo criativo daquela banda de Kyoto, fundou os Jyocho. Estes retomam algumas coordenadas dos Uchu Conbini – uma voz feminina leve e melodiosa, malhas rítmicas intrincadas, atmosferas luminosas e límpidas, e, claro, a assombrosa técnica de double-handed tapping de Nakagawa – e adicionam uma flauta e um teclado à tríade guitarra + baixo + bateria e têm um pendor mais jazzístico e lírico. O presente vídeo corresponde ao DVD que acompanha a edição limitada do primeiro álbum de longa duração da banda, Utsukushii Shumatsu Saikuru (Beautiful End Cycle, numa tradução aproximada).

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7. Life Was All Silence

Data: Agosto 2016
Local: Festival Woo and Flutter, West Kowloon Cultural District, Hong Kong

Os Life Was All Silence são de Hong Kong e têm raízes math-rock mas a sua música é um pouco menos tensa e intrincada do que é usual no género e investe mais na exploração de ambientes e texturas. Estrearam-se em 2014 com o álbum The People, gravado na sala de ensaio da banda.

Esta sessão, com as faixas “Behind the Mercury”, “Swimming”, “Lie Is an Abstraction”, “Damascus”, foi registada dois anos depois, num festival que serve de montra à cena indie rock da antiga colónia inglesa (que é fervilhante, como prova esta amostra de 10 bandas indie de Hong Kong).

8. Jambinai

Data: 25 de Julho de 2015
Local: Paléo Festival, Nyon, Suíça

A banda é do outro lado do mundo – nasceu em Seul em 2009 – mas o concerto foi gravado do lado de cá. Ao contrário das bandas anteriores, cujo instrumentário e linguagem são de matriz ocidental, os Jambinai têm influência da música tradicional sul-coreana. O grupo é formado por Lee Il-woo, que toca guitarra, piri (instrumento de sopro de palheta dupla, feito em bambu) e taepyeongso, (instrumento de sopro de palheta dupla, de corpo em madeira e que termina numa campânula metálica), Kim Bo-mi, que toca haegeum, (uma espécie de rabeca de duas cordas, que são friccionadas com um arco), e Sim Eun-yong, que toca geomungo (uma espécie de cítara cujas cordas são “beliscadas” com uma baqueta de bambu). A este trio somam-se um baixista e um baterista para as gravações e concertos.

Quando da gravação deste concerto, os Jambinai ainda eram quase desconhecidos no Ocidente, mas a edição do seu segundo álbum, Hermitage, pela Bella Union veio trazer-lhes merecido reconhecimento, que foi reforçado em 2019 com o álbum Onda.

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