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Depois de três dias no Parque da Bela Vista a viver intensamente o MEO Kalorama, entre tardes de abrasador calor e concertos marcados pelo reduzido número de público, chegámos ao fim da quarta edição do festival lisboeta. Agora, é chegado o momento de fazermos uma avaliação sobre o que gostámos mais de ver (mas também o que nos deixou de pé atrás).
Entre grandes concertos de velhos amigos e de novas promessas da cena musical, o que mais nos chamou a atenção (e alertou) para este acontecimento foi a clara fraca afluência comparado com os anos anteriores. Concertos de início de tarde e de artistas emergentes contavam com apenas dezenas de fãs – o que nos deixou a pensar que talvez teria feito mais sentido apostar num palco de menor dimensão (no ano passado tinha o nome de Palco Lisboa) para ajudar a criar um ambiente de maior intimidade e não a sensação de vazio que tanto esteve presente.
Ainda assim, ao longo destes dias, vimos alguns concertos que, durante muito tempo, vão permanecer marcados na nossa mente, como foi o caso de Flaming Lips, Model/Actriz ou Jorja Smith, assim como de artistas que um dia vão explodir para novos níveis de fama, como Jasmine.4.t. – mas também alguns que nos desapontaram por sentirmos que podiam ter sido melhores, como Badbadnotgood. Estes foram os concertos que a Time Out viu.
Dia 1
David Bruno: para caloteiros, tasqueiros e intervenientes acidentais
O produtor de Gaia e co-fundador de Conjunto Corona, David Bruno, encontrou a fórmula perfeita para os seus concertos e desde então tornou-se um dos mais imperdíveis artistas em Portugal.
Munido de grandes canções, de discos como Miramar Confidencial ou Raiashopping, tingidos por influências de hip-hop, synth pop dos anos 80 e a nostalgia da música romântica portuguesa, o artista chegou a uma fase da carreira em que todos os seus fãs já conhecem as músicas de cor e fazem a festa seja a primeira ou centésima vez que o vejam, ainda que exista sempre espaço para novos apaixonados: “Vocês conhecem este gajo? Só o vim ver porque a minha mãe do Porto me recomendou e fiquei parvo”, diz-nos um jovem no final do concerto, antes de o levarmos numa viagem por toda a história do artista.
Com uma componente bastante dinâmica e interativa entre os fãs, seja com David, o hype-man António Bandeiras ou o convidado Mike El Nite, a cantar no meio da audiência – enquanto o guitarrista de Barcelos Marco Duarte aguentava o instrumental – esta foi a forma perfeita de abrir as hostel do festival, no Palco MEO.
Father John Misty: mais grisalho, mas com a energia de sempre
Os cabelos brancos a despontar da barba de Josh Tillman transparecem uma imagem errada. O tempo não passa pelo autor de “I Love You, Honeybear”, que continua um autêntico animal de palco e um óptimo criador de canções, como podemos comprovar com o disco de 2024, Mahashmashana. Foi precisamente com uma música deste álbum, “I Guess Time Just Makes Fools of Us All”, que iniciou o concerto no Palco MEO, mostrando com este som renovado por influências de funk que ainda tem Groove para dar e vender. O clímax fez-se, precisamente, com “I Love You, Honeybear” acompanhada por coros a cantar o delicioso refrão e casais apaixonados abraços.

Apesar de ser uma presença regular nos festivais portugueses, Josh Tillman continua a provar que é um ás na manga de qualquer promotor de concertos.
Sevdaliza: muita batida para pouco calor
Ao subir a colina que nos conduzia para o Palco San Miguel, era possível ouvir uns ritmos que se distinguiam de tudo o que tínhamos ouvido até então neste dia do MEO Kalorama. Em palco estava a cantora, compositora e produtora de origens iranianas Sevdaliza e pelas colunas podíamos ouvir o calor das suas novas faixas reggaeton.
Com danças sedutoras e canções marcadas pelas colaborações – ouvimos as vozes de Tokischa, Pablo Vittar ou Anitta –, sentimos que esta transformação da ar é pouco natural e acaba por ser alguns furos abaixo das contemporâneas que exploram as possibilidades deste estilo de música latina. O momento mais emocional aconteceu quando levou o seu filho, que nasceu em 2021, ao palco para partilhar o momento com ela, no entanto, não foi o suficiente (nem quando subiu os BPMs das músicas) para fazer com o que o concerto fosse mais do que morno ou algo memorável.
Pet Shop Boys: uma lição de história (da música electrónica)
A apresentar exactamente o mesmo espetáculo que levaram ao Primavera Sound em 2023, os veteranos Pet Shop Boys estiveram no palco principal do festival para se apresentarem perante a maior enchente de fãs do primeiro dia do MEO Kalorama. O espectáculo dos britânicos Dreamworld – The Greatest Hits Live Tour encontra-se numa fase perfeitamente oleada e pronta para encantar tanto os adeptos de longa data tanto quanto os curiosos que estão receptíveis a tornar-se novos fãs.
Mesmo que as melodias e ritmos deste synth pop dos anos 80 não sejam a praia de muita gente, é difícil negar quão contagiante são faixas como “It’s a Sin”, “Always On My Mind” ou “Being Boring”, que encerrou o concerto com chave de ouro. Se, ainda assim, estas eficazes músicas pop não forem suficiente para o conquistar, o espectáculo está montado de uma maneira bastante interessante, começando apenas com uma instalação minimalista, os dois fundadores do grupo, Neil Tennant (vocalista) e Chris Lowe (teclado) em palco e dois postes de luz, desenvolvendo para uma banda completa, luzes e fatos mais rebuscados e terminando novamente com a disposição original.

Ainda que não seja o mais original dos concertos, espere um espectáculo divertido e uma autêntica lição de história da música electrónica.
Flaming Lips: vamos todos morrer, pelo menos vimos Flaming Lips
O que é que se faz no Parque da Bela Vista às 02.00 da manhã? E o que é que se faz no Parque da Bela Vista às 02.00 da manhã com os olhos cheios de lágrimas? Provavelmente não é uma resposta consensual, mas, no caso, estávamos a ver os Flaming Lips. A banda liderada pelo vocalista Wayne Coyne (que esta noite também assumiu os deveres de trompetista) regressou a Portugal, pela primeira vez em mais de dez anos, e estreou-se em Lisboa com um concerto integrado numa digressão especial em que estão a tocar na integra o disco seminal de 2002, Yoshimi Battles the Pink Robots.
Apesar do público reduzido – actuaram à 01.30, já depois dos cabeças de cartaz, Pet Shop Boys, e de L’Imperatrice –, o grupo norte-americano de Oklahoma quis garantir que teríamos uma noite de celebração da vida. Antes de o concerto iniciar, Wayne tocava na sua corneta uma melodia que servia para despertar o público e pedia, encarecidamente, para todos os membros da audiência fazerem barulho (algo que repetiu até ao final do concerto, às vezes até em momentos em que preferíamos estar só em silêncio, a ouvir a música).
Quando os primeiros acordes de "Fight Test", primeira faixa de Yoshimi Battles the Pink Robots, soaram, já no palco se encontravam quatro robots cor-de-rosa insufláveis gigantes, que iriam aparecendo e desaparecendo ao longo do espectáculo. A festa estava montada. Apesar de notarmos a voz a fraquejar e a desafinar ao longo do espectáculo, do registo de o concerto se tornar um pouco previsível para quem já conhecia o disco e pouco dado a improvisos (e com um final um pouco desapontante para todos os que tinham ido investigar as setlists anteriores e depararam-se com concertos que tinham uma segunda parte extra e dois encores), ou que faltavam mais adereços que costumam usar nos seus concertos, como os unicórnios gigantes ou a bolha enorme para onde o vocalista entra e se atira para o público (contentámo-nos com os balões gigantes a dizer “Fuck Yeah Kalorama Lisbon”), é difícil apontar o dedo ao grupo e dizer que não deixou tudo em palco e dedicou canções como "Are You A Hypnotist??" ou "In The Morning of the Magicians" com especial intensidade.
Mas, claro, os momentos altos aconteceram quando a banda tocou "Yoshimi Battles the Pink Robots, Pt. 1" e "Do You Realize??", faixas mais populares deste disco, que foram recebidas com os coros mais intensos, lágrimas e abraços entre grupos de amigos. Ainda é difícil descrever as centenas de pessoas que cantavam em uníssono “Do you realize/ That everyone you know someday will die?” – ainda que a voz às vezes falhasse por estar a chorar em prantos.
O regresso dos Flaming Lips a Portugal, a primeira vez desde 2012, foi um grande sucesso e, especialmente depois da desilusão de terem deixado tantas canções por tocar – em comparação com o resto da tour –, deixa-nos a sonhar com um possível novo concerto, desta vez em nome próprio e numa sala fechada, onde seja possível ouvir as suas canções com ainda mais qualidade.
A certa altura, Wayne Coyne agradeceu ao público por continuar de pé às 02.00 da manhã para os ouvir. “Obrigado por nos deixarem estar cá”, diz. Não, Wayne. Obrigado, nós, por vocês terem estado cá.
Dia 2
Máquina: os prodígios portugueses, mais oleados do que nunca
São uma das bandas mais incansáveis de Portugal, com concertos atrás de concertos, inclusive por paragens internacionais, os Máquina estiveram no MEO Kalorama, no Palco San Miguel, a mostrar a sua capacidade para deixar os corpos a mexer sem parar e porque ão um dos melhores projectos musicais nacionais. Com uma contagiante energia, movida por influências como o krautrock, o rock psicadélico, mas também a música electrónica e industrial, o trio colocou o pé no acelerador desde o primeiro momento do concerto e nunca mais parou. Apesar de terem actuado cedo, quando o sol ainda raiava, o que não permitiu criar o ambiente de club que a sua música pede, conseguiram oferecer um belo espectáculo a todos os presentes.
Model/Actriz: o encontro entre a brutalidade e a sensibilidade
Naquele que foi um dos principais concertos do festival (e provavelmente um dos melhores que vimos este ano em Portugal), os Model/Actriz, banda de Boston, subiram ao Palco San Miguel às 20.35, quando o sol ainda marcava presenã, para dar uma lição de como fazer um concerto impactante sem precisar de recorrer a fogos-de-artifício, graças a um carismático e enérgico vocalista – Cole Haden, que subiu ao palco envergando uma pequena mala e um copo de vinho na mão – e a instrumentistas que arranjaram maneiras pouco ortodoxas, mas eficazes, de usar os seus instrumentos.
O quarteto veio apresentar o seu disco mais recente, Pirouette, editado em Maio deste ano e, tal como o vocalista nos garantiu em entrevista, a audiência tem as letras das canções bem estudadas. O grupo impressiona por conseguir manter a brutalidade de um instrumento que associamos a estilos como o noise rock, mas introduzir uma sensibilidade pop contagiante, com refrões que são repetidos pela audiência. A particularidade é que aqui cantamos letras sobre a promiscuidade sexual e a fragilidade de crescer enquanto um homem homossexual.

Com o público que se juntou para o ver, rapidamente se gerou uma comunhão à volta deste concerto, que se tornou bastante intimista. O cantor, em diversas ocasiões, veio cantar para junto da audiência, tocando nas mãos dos fãs e olhando-os nos olhos, e, inclusive, fez a sua performance, em várias ocasiões, no meio da plateia. Um dos momentos mais altos foi quando obrigou os devotos a irem até ao chão e a saltarem no clímax da canção. A provocadora banda deixou todos aqueles que os viram satisfeitos, notando-se isso sobretudo nas dezenas que permaneceram após estes abandonarem o espectáculo, para os agraciarem com mais palmas.
Boy Harsher: banda sonora para uma discoteca de vampiros
Lembra-se do início do filme Blade, com o Wesley Snipes, de 1998? Sim, aquele em que o caçador de vampiros entra numa discoteca repleta de criaturas da noite e os assassina ao som de música electrónica. Os Boy Harsher seriam perfeitos para fazer essa banda sonora. A dupla norte-americana, constituída pela vocalista Jae Matthews e o produtor Augustus Muller, esteve na colina onde se encontra o Palco San Miguel a servir batidas pulsantes a um grupo de pessoas que, na sua maioria, envergava óculos de sol, apesar de o sol já se ter deitado há demasiado tempo. Munidos de batidas pulsantes, luzes de cores intensas que provocariam um ataque de epilepsia a quem não estivesse preparado, o grupo cumpriu a missão a que se comprometeram. “Nós somos os Boy Harsher e fazemos música de dança.” Não mentiram.
Scissor Sisters: celebrar a sexualidade com uma grande festa
Naquela que foi um dos espectáculos mais divertidos do festival, os nova-iorquinos Scissor Sisters ofereceram uma das maiores festas do MEO Kalorama, transformando o Palco MEO – e o Parque da Bela Vista – numa autêntica danceteria a céu aberto.
“Mamas de fuera”, gritava uma das cantoras que acompanhava o grupo, logo no início do concerto. “Amo a minha mãe porque ela me ensinou duas coisas: a cantar e a usar cuecas de fio dental”, ouviu-se também do palco. Com poucas papas na língua, todos os preconceitos ficaram de fora para dar espaço a uma celebração desinibida e divertida repleta de música com influências de disco e funk norte-americano. Sempre com boa disposição e uma dose considerável de humor, desde projecções feitas em Inteligência Artificial de palhaços e outros “memes” absurdos, a uma rendição disco de “Comfortably Numb” dos Pink Floyd, não é demasiado reforçar que este foi um dos momentos de melhor disposição do festival.

O clímax do concerto aconteceu com “I Don’t Feel Like Dancing” com grupos de amigos a dançar e a celebrar o momento. O concerto mais animado do festival.
FKA Twigs: o Kalorama girou em torno do seu varão
A encerrar o dia estava aquele que seria o espectáculo mais elaborado da noite. A artista britânica Tahliah Debrett Barnett, mais conhecida pelo nome artístico FKA Twigs, subiu ao Palco MEO para mostrar a tour de apresentação do seu mais recente disco, Eusexua, editado em Janeiro do presente ano. Dividido em três actos, o concerto foi sobretudo focado na performance, com a voz de “Cellophane” a deixar, inúmeras vezes, as partes cantadas à responsabilidade das gravações de estúdio, focando-se mais nas danças conceituais.
A britânica explicou que Eusexua era um trabalho inspirado na ideia de entrar “num êxtase tão intenso que transcende a forma humana”, daí que parte do espectáculo tenha sido focada no corpo de cada bailarino. Logo no primeiro acto, intitulado “The Practice”, cada artista despiu-se até ficar apenas com uma roupa interior justa e cuja cor coincidia com o tom de pele. O efeito provocado era que parecia que cada corpo não tinha sexo – como se fossem bonecos da Barbie ou do Ken (ou um Allan), transcendendo o próprio género.
É sem dúvida um espectáculo fascinante, especialmente quando Twigs utiliza o varão gigante para fazer uma dança de cortar a respiração, no entanto, em termos musicais, desejávamos que a cantora mostrasse um pouco mais dos seus dotes vocais. Um dos pontos altos do concerto foi quando usou as suas capacidades em “Striptease”, com vocalizações que deixaram qualquer fã arrepiado. Ainda assim, e mesmo não tendo a adesão que se esperava de uma artista desta dimensão, foi um espectáculo bem recebido e que deixou todos os fãs satisfeitos. Mesmo que, visivelmente, a afluência tenha estado abaixo do esperado, os coros de vozes juntaram-se para mostrar que o espetáculo montado por Twigs está mais do que aprovado.
Dia 3
Yakuza: o novo jazz português chegou à Bela Vista
São um dos principais nomes da cena de novo jazz português – em que este estilo, eternizado por nomes como Miles Davis ou John Coltrane, ganha uma nova vida com influências como hip-hop ou a electrónica – e foram um dos melhores a apresentarem-se no MEO Kalorama. Os Yakuza são um daqueles casos sérios da música portuguesa e valem a pena ver onde quer que estejam a tocar, seja numa sala escura e intimista ou às 17.35 no Parque da Bela Vista sob um sol abrasador.
A setlist esteve foçada em 2, disco mais recente do grupo, editado em 2024, focado nas vivências do grupo na Penha de França. Neste trabalho, a banda adicionou umas referências psicadelicas e de stoner rock garantindo mais nervo e músculo às suas canções. Ao vivo, é possível sentir isto na descarga de energia do quarteto.

Com os Badbadnotgood – nome maior do novo jazz – a apresentarem-se mais tarde, esta foi uma das melhores decisões do alinhamento, permitindo um aquecimento suado aos fãs do grupo canadiano (que inclusive elogiou este concerto durante a sua actuação), mas também com que estes fossem introduzidos a novos possíveis fãs. A certa altura, Afonso Sêrro, dedica a canção “Batota” a todos aqueles que frequentam o Sporting Clube da Penha para jogar o jogo de cartas com o mesmo nome. Batota, para nós, foi feita por todos aqueles que vieram mais cedo para o recinto ver um dos melhores concertos desta edição do festival.
Jasmine 4.t: o melhor concerto que ninguém viu
A fraca afluência do MEO Kalorama afectou praticamente todos os artistas que passaram pelo festival, especialmente os que actuaram no Palco MEO e sofreram ainda mais com o espaço vazio. Mas, caso tenham perdido Jasmine.4.t, não se preocupem. Podemos garantir uma coisa: ela vai regressar em breve e com o destaque que merece.
Bom… na verdade, não podemos garantir isto, mas se pudermos servir de horóscopos musicais (e se existir justiça no mundo), os talentos da artista trans britânica, que lançou o seu disco de estreia, You Are The Morning, em Janeiro deste ano, produzido pelas boygenius (grupo formado por três das melhores cantautoras da actualidade, Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker, que mereceram um agradecimento durante o concerto), esses poderes serviráão para garantir que esta terá um futuro muito risonho.
Com um som que vai beber ao grunge e ao rock alternativo, ao folk mais confessional ou ao pop punk, a artista soube apresentar as suas variadas influências de uma forma dinâmica e cativante, garantindo momentos mais emotivos e dedicados ao storytelling, mas também mais energéticos, resgatando uma cover de uma música da banda sonora de Tony Hawk Pro Skater 2 para delírio das três pessoas que fizeram mosh – este é um dos concertos que teria beneficiado de um palco mais intimista.
Ao longo do concerto, e sem nunca parecer forçado, Jasmine foi falando de problemas que a afligiam, desde a solidariedade queer, do facto de o Supremo Tribunal do Reino Unido ter deixado de considerar as mulheres transgénero como mulheres, falou do EP que lançou e cujos lucros revertem a favor de uma associação de apoio a uma associação que ajuda pessoas trans em condição de sem-abrigo ou sobre a melhor amiga que foi presa, por “alegadamente” ter tentado realizar um ataque numa fábrica de drones israelitas. Cada momento de solidariedade era correspondido por uma canção e uma entrega energética e emotiva, com gritos da vocalista, que se colocava de joelhos no chão a tocar guitarra. É o tipo de honestidade que apreciamos.

Antes de o festival começar, a Time Out teve oportunidade de falar com o organizador do MEO Kalorama, Diogo Marques, que nos disse que um dos alicerces do festival é descobrir e dar palco a jovens talentos. A ser verdade, tem aqui um dos maiores diamantes em bruto que já passaram pelo festival.
Badbadnotgood: jazz morninho, a cumprir a sua missão
Com uma audiência mais composta, os canadianos Badbadnotgood, que se apresentaram em formato de sexteto, ofereceram um dos concertos mais aguardados do dia, mas os resultados foram um pouco mistos. Apesar de não terem desiludido, as incríveis composições de álbuns como IV, Talk Memory ou o mais recente Mid Spiral, de 2024, continuam a ser suficientes para mover uma multidão e deixar qualquer um a dançar, no entanto, sem nunca carregar muito no acelerador, este nunca chegou a ser um concerto verdadeiramente memorável do grupo, ainda para mais quando temos óptimas recordações, por exemplo, dos concertos que deram em Paredes de Coura. O ponto alto aconteceu quando fizeram um tributo a dois artistas que morreram em 2024, Sly Stone, com “Family Affair”, e Roy Ayers com “Everybody Loves The Sunshine”. “Obrigado pelos vossos raios de sol”, disse o baterista depois desta versão. De nada, mas os vossos podiam ter sido um pouco mais quentes.
Noga Erez: a carismática rapper deixou o seu cartão de visita
Caso não conhecessem Noga Erez, o mais certo é terem saído fãs após este concerto. Com uma confiança impressionante e um carisma magnético, a rapper israelita ofereceu um concerto energético no principal palco do festival. Com uma canção que conta com participação da Missy Elliot, músicas a dizer ao ex para ir dar uma curva (não nestas palavras), é mais um dos nomes que sai do Kalorama e que devemos continuar a acompanhar. No final despediu-se com uma mensagem de paz, a desejar um mundo sem conflitos, mas o que nos vai ficar na memória é a sua postura empoderadora e as músicas cativantes.
Jorja Smith: a voz e o talento que conquistaram a Bela Vista
Naquela que foi a mais pura amostra de talento puro e duro, Jorja Smith mostrou ao Kalorama porque é que tem uma das melhores vozes da sua geração e foi prendada com uma das maiores enchentes desta edição, num concerto que misturou um pouco de gospel, jazz, mas também de afrobeat nos ritmos. Com um palco sóbrio mas elegante, com umas luzes que ajudavam a criar um ambiente mais acolhedor, a artista fez britânica fez uso da sua banda de oito membros, incluindo três coristas, para usar a sua voz sedutora da forma mais eficaz possível. A rendição de “Teenage Fantasy” que contou com uma introdução a capela ficará durante largas semanas na nossa mente. Mas o concerto não se fez apenas da grande voz de Jorja, a banda que a acompanhou fez um óptimo trabalho, desde as vozes angelicais do coro, os solos de guitarra de bradar aos céus, com o grupo a criar momentos que nos transportaram para uma autêntica pista de dança, especialmente em faixas como “The Way I Love You” ou “On My Mind”.
Sem precisar de grandes fogos-de-artifício, só de talento analógico, a britânica ofereceu um dos melhores concertos e daqueles que perdurará na memória de quem visitou o festival.
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