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palacio beau sejour
Fotografia: Inês Félix

Lisboa assombrada: os espíritos andam aí

Aqui está um programa do outro mundo. Desvendamos alguns dos locais mais assombrados da cidade. Para evitar. Ou não

Renata Lima Lobo
Raquel Dias da Silva
Escrito por
Renata Lima Lobo
e
Raquel Dias da Silva
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Está alguém aí? É esta a pergunta chave da ficção de terror e uma das frases a evitar em casas assombradas da vida real (nos filmes costuma ser tiro e queda). Mais vale não arriscar, mesmo que não acredite em bruxas, porque... “que las hay, las hay”, como se costuma dizer. A pensar nisso, fizemos um roteiro especial de sítios que podem ser considerados impróprios para almas mais assustadiças, do centro de Lisboa a Sintra. Mesmo que estejam cheios de gente, os fantasmas, os espíritos, vagueiam à socapa e nenhum virar de esquina é totalmente seguro.

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Lisboa assombrada: os espíritos andam aí

  • Coisas para fazer
  • São Vicente 

“Soubesse eu escrever que não estava com demoras.” As palavras foram proferidas em finais do século XIX pelo operário tabaqueiro Custódio Gomes, após uma recusa de um jornal em publicar uma notícia sobre as condições de vida destes operários. O jornal A Voz do Operário nasceu pouco tempo depois, em 1879. Hoje o edifício da rua com o mesmo nome alberga uma escola e o fantasma de Custódio, que vive no salão de festas da instituição, onde faz a sua vida. Consta que ele gostava tanto do projecto que se recusou a deixá-lo. Abre as cortinas do palco, as janelas para arejar o ambiente e só vagueia pelos corredores durante a noite, quando estão vazios. Não vá alguma criancinha fazer xixi nas calças.

  • Coisas para fazer
  • Escolas e universidades
  • Chiado

Quem nunca ouviu relatos de avistamentos sobrenaturais no espaço que mais respira arte em Lisboa? Quem já não respira, mas ao que parece continua com bastante actividade, é o fantasma (ou fantasmas, ninguém sabe ao certo) que faz andar os elevadores durante a noite, que fecha as portas, rabisca marcas no chão (talvez a tentar competir com o corpo docente) e espalha penas brancas por onde passa. Se é verdade ou não, não sabemos, mas da fama de assombrada já ninguém livra esta faculdade, instalada num antigo convento fundado em 1217 (e em funcionamento até 1834) e onde consta que já foram encontradas ossadas humanas.

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  • Atracções
  • São Vicente 

É uma das histórias de assombrações mais antigas de Lisboa. A Cruz dos Quatro Caminhos ficava no que é hoje a Rua dos Sapadores e durante anos foi um arrabalde da cidade, com diversas habitações de traça simples e cércea baixa, pertencentes às classes sociais mais desfavorecidas. Antes do advento da electricidade, vivia-se muito na penumbra após o pôr-do-sol e dizia-se que ali se juntavam as bruxas junto a uma cruz de Cristo. Consta que os lisboetas evitavam passar por aquele local.

  • Atracções
  • Alfama

Escondido entre os becos e vielas de Alfama, este pátio deve o nome ao último carrasco de Portugal, Luís Alves dos Santos (1806–1873), também conhecido por “O Negro”. Reza a lenda que haveria um túnel subterrâneo, por onde Luís caminhava até à prisão do Limoeiro, mesmo ao lado, e que o local é ainda hoje assombrado pelos gritos das vítimas que fez, embora os antigos moradores acreditassem que eram do próprio carrasco. É ainda possível que Luís nunca tenha executado ninguém. Conta-se que, da única vez que foi encarregue de o fazer, pediu ao seu imediato que o substituísse.

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  • Atracções
  • Edifícios e locais históricos
  • Sete Rios/Praça de Espanha

É a actual morada do Gabinete de Estudos Olisiponenses, numa antiga quinta do século XIX, casa de veraneio de gente nobre. Beau Séjour significa “estadia agradável”, mas só se não tivermos em conta relatos relacionados com o Além. Segundo o historiador Anísio Franco, no seu livro Lisboa Desconhecida & Insólita (2017, Porto Editora), os antigos proprietários – a viscondessa da Regaleira e o barão da Glória – ainda não abandonaram o imóvel. Livros e caixas que desaparecem para serem encontrados noutros locais, sinos de vidro da pérgula do jardim que continuam a tocar, mesmo sem lá estarem, são alguns dos mistérios, mas o relato mais sombrio é mesmo o de um funcionário que um dia, depois de tocarem à campainha, perguntou quem era e ouviu uma voz potente que respondeu “o barão da Glória” e outra mais frágil que se anunciou como a viscondessa da Regaleira. Só que não estava ninguém à porta.

  • Saúde e beleza
  • Lisboa

É uma referência nacional em Pediatria e um dos primeiros hospitais pediátricos da Europa. Foi mandado construir pelo rei D. Pedro V, após a morte da sua rainha, Dona Estefânia, que acalentava o desejo de ver erguido um hospital para crianças. E dizem que a monarca austríaca continua a percorrer os corredores do hospital para proteger os pequenos enfermos. São vários os relatos de profissionais de saúde que juram ter visto um vulto envolto em luz, com uma saia a arrastar pelo chão. Há quem tenha ouvido uma voz aflita, passos durante a noite ou barulhos misteriosos no sótão. E ao que parece, também Nossa Senhora visita o hospital, pelo menos desde que aqui esteve internada a pastorinha Jacinta Marto, que confirmou a sua visita, antes de aqui falecer em 1920.

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  • Atracções
  • Sintra

Mais conhecido como Casa das Bruxas (o telhado de forma cónica ajuda), este edifício neogótico escondido nas misteriosas encostas da Serra de Sintra, construído entre 1866 e 1869, serviu de cenário para Roman Polanski filmar parte do seu thriller sobrenatural A Nona Porta. Propriedade privada, consta que tem sete pisos subterrâneos onde se reúne uma sociedade secreta e diz a lenda que algures se encontra uma das três cópias do livro escrito pelo diabo. Infelizmente não são permitidas visitas. Caso contrário, deslumbrar-se-ia ainda mais com o interior, onde o arquitecto e pintor Luigi Manini combinou frescos medievais com o gótico flamejante, o estilo próprio da época, mescla na qual se incluem os vitrais multicoloridos, verdadeiras Bíblias de luz vindas de França.

Casa das Pedras
  • Atracções
  • Cascais

Não é difícil imaginar histórias fantasmáticas nesta mansão construída em 1903 na Avenida Marginal. Ocultistas apresentam a casa como um cenário de assombrações, manifestadas através de luzes intermitentes e portadas de janelas que se abrem sem ninguém por perto. Mas quem lá vive garante que é tudo mentira. Encomendada pelo Comandante e Capitão-de-fragata Manuel de Azevedo Gomes ao italiano Nicola Bigaglia, na viragem do século XIX para o século XX, esta casa localiza-se no topo de uma elevação a pouco mais de duas dezenas de metros das arribas do mar e foi originalmente designada por Quinta do Moledo, por evocar os moledos do Pico, muros de pedra solta que demarcam os terrenos da ilha natal do proprietário. Com um corpo arredondado virado a sul, que abriga um “jardim de inverno” e erguendo-se numa sequência de ameias e merlões, evoca o imaginário de castelo medieval e impõe-se como uma das mais representativas peças da arquitectura de veraneio de finais do romantismo tardio no concelho de Cascais.

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  • Atracções
  • Cascais

Consta que há fantasmas neste Castelinho, com ar de castelão, na marginal que liga Cascais a Lisboa. É, aliás, uma das histórias fantasmagóricas mais conhecidas da região. Por detrás dos relatos de arrepiar poderá estar a história de uma menina, que morava numa casa perto do castelinho e que terá caído acidentalmente das arribas. Reza a lenda que os pais dessa criança ofereceram a moradia, em sua memória, a uma instituição de apoio a invisuais. Porém, há quem diga que essa menina era na verdade filha dos primeiros proprietários do Castelinho, continuando por isso a deambular pelos muros da propriedade com uma boneca na mão. Pelo menos é o que jura a pés juntos quem diz já a ter visto, como o marchant José Castelo Branco, que ponderou comprar a casa em 1983. Mas nada feito: não aconteceu. Só anos mais tarde é que a casa do Dr. Cebola – como também é conhecida, em homenagem ao primeiro proprietário, o psiquiatra Luís Cebola – voltou a ser habitada. E nunca perdeu a fama.

  • Atracções
  • Sintra

Mesmo no coração da vila de Sintra, entre o Parque da Liberdade e o Palácio Nacional, este edifício de arquitectura revivalista vive rodeado de histórias macabras: a mais famosa está relacionada com a fantasma Palmira, uma antiga criada do conde de Valenças que se suicidou por causa de um amor impossível pelo patrão. Quem trabalhou no local, que já foi Biblioteca Municipal de Sintra, relatou ouvir sons estranhos, desde ranger de tábuas a ruídos silvantes. Mas o fenómeno pode ter sido causado apenas por funcionários mais brincalhões. Ou, quem sabe, os fantasmas são outros. É que, antes de ser biblioteca, o Palácio de Valenças funcionou como matadouro até 1859. Agora, edifício de representação institucional, é na chamada Sala da Nau, que se costuma reunir a assembleia municipal. Será que os fantasmas têm poder de veto?

Impróprio para medricas

  • Filmes
  • Terror

A história do cinema de terror é uma história de inovação e inconformismo, desenrola-se em recantos estranhos e afastados do mainstream, onde ideias perigosas podem ser exprimidas, técnicas radicais exploradas, e filmes feitos por tuta e meia conseguem ter um impacto cultural significativo. Muito significativo. Não foi por acaso que, desde o início do século XX até aos dias que correm, inúmeros e talentosos realizadores se dedicaram a assustar os espectadores com monstros maquiavélicos, espíritos misteriosos e sangrias desenfreadas. E qualquer cinéfilo que se preze já viu estes clássicos de cinema de terror.

  • Compras

Há cinema de terror, claro, mas também há livros de terror, mais ou menos obscuros. Afinal, um bom susto não precisa necessariamente de imagens em movimento nem de bandas sonoras tenebrosas. Razão porque fomos à procura das melhores obras do género para os fãs de literatura e encontrámos mais de duas mãos cheias de sugestões, desde um romance histórico a uma antologia de banda desenhada portuguesa, sem esquecer os mais jovens, sempre com o terror como pano de fundo. Recomendamos a companhia de uma luz de presença e de um cobertor, capaz de o proteger dos monstros debaixo da cama.

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Canções de Halloween para ouvir sem medos
  • Música

Apesar de não ser uma tradição portuguesa, o Halloween é cada vez mais celebrado por estas bandas. Se é daqueles que assinalam a data, esta playlist é para si. Se não, também pode ser. É verdade que uma ou outra canção, como o "Monster Mash" de Bobby “Boris” Pickett & The Crypt-Kickers, praticamente só faz sentido neste contexto, mas as outras são boas em qualquer altura. Algumas até têm uma relação muito ténue com o Halloween, apesar de ao longo dos anos se terem tornado clássicos da época e entrarem frequentemente em listas de canções de (e para o) Halloween.

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