A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
★★★☆☆
Nando (Álex González) é um pugilista galego que ajuda o avô na faina da pesca e se torna campeão amador de boxe de Espanha na sua categoria. Mas sente-se frustrado porque não ganha dinheiro e o futuro não lhe sorri. Por isso, e porque conhece muito bem a costa da Galiza, começa a conduzir, juntamente com um primo português e mecânico, Sérgio (Nuno Lopes), as lanchas de um outro familiar que trafica droga. Pouco demora para que Nando se veja com Sérgio no Brasil, e com a incumbência – arriscadíssima – de conduzir um submersível artesanal carregado de cocaína da Amazónia para os Açores, na companhia de um mecânico brasileiro e de um colombiano de feitio volátil e gatilho fácil.
Este é o enredo de Operação Maré Negra (Amazon Prime Video), uma produção luso-espanhola baseada em factos reais ocorridos em 2019, que vai direita ao assunto em termos de exposição da história, caracterização das personagens e orientação da trama, passada em grande parte dentro do pequeno, acanhado e instável submarino que cruza o Atlântico, e que capitaliza bem na atmosfera de crescente tensão e fricção entre o trio de tripulantes, e no ambiente claustrofóbico que se vive lá dentro. E fica tudo contado em quatro episódios, sem ganga visual nem palha de verbo. Venham outras assim.
