Miguel Guilherme era um jovem adulto nos anos 1980, e viveu-os intensamente. Catarina Avelar lembra quem por eles passava com desconfiança. Luís Ganito só os pode imaginar.
Pedimos a três actores de diferentes gerações – que na série são pai, filho e avó – que olhem para a década, a real e a imaginada, reflectindo sobre como ela influenciou o rumo do país.
Miguel Guilherme
“Foram tempos felizes, foi quando comecei a fazer mais teatro, me emancipei e tudo isso foi muito importante para mim.” Miguel Guilherme tinha 23 anos em 1984. Esses tempos “foram muito loucos de certa maneira”. “O Bairro Alto começa aí, a movida lisboeta começa em 1982/83, com o Frágil e toda a ocupação do Bairro Alto, que deixa de ser um sítio só de prostituição e jornais, e passa a ser um sítio de diversão nocturna muito importante.” “Os anos 1980 foram muito interessantes, foi um despertar para a liberdade. Foi quando o pós-modernismo se impôs de forma muito visível, na moda, na arquitectura, nas artes plásticas e isso tinha influências muito mais rápidas em Portugal do que quando éramos uma ditadura.”
Luís Ganito
Dez anos mais tarde, o actor que dá vida a Carlitos tem agora 22 anos. Não era nascido nos anos 1980. Na série o seu personagem vive sozinho, tem um trabalho precário e é incompreendido pelos pais. Vive na pele as mudanças culturais e passa as noites no Frágil ou noutros sítios conhecidos da época. “O Carlitos tem um trabalho que hoje corresponde basicamente aos recibos verdes, trabalha numa rádio-pirata e faz trabalhos de publicidade.” O país de então era mais cru, “não havia tanto esta preocupação com o turismo”. A geração dos seus avós, hoje com 70 anos, tinha na altura com 30 “esse olhar muito conservador próprio da época”, conclui.
Catarina Avelar
As décadas de 1960 e 1970 foram a altura mais marcante da sua vida. Tudo o que vem depois é uma consequência desses tempos e das mudanças que representaram. Os anos 80 assumiram-se como “uma visão de futuro na Europa”, refere. Sedimentaram o que os ventos da liberdade trouxeram à sociedade. “Sou actriz, nós temos este grãozinho para além do cidadão comum. Não somos mais, mas vemos as coisas de outra maneira, e nunca senti isso, mas o povo no geral sentia alguma relutância pelas coisas novas”, confessa.