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DROs chefs espanhóis que possuem a distinção mais alta do guia: três sóis

Maior guia gastronómico espanhol também vem para Portugal

Directora do Guia Repsol, que é o grande concorrente da Michelin em Espanha, não se compromete com uma data, mas o objectivo é que o rastreamento dos restaurantes portugueses arranque já este ano.

Cláudia Lima Carvalho
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Cláudia Lima Carvalho
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Se dúvidas existissem sobre o momento gastronómico que Portugal vive, o interesse da Repsol em apostar num guia exclusivo para Portugal, depois de também a Michelin o ter feito, é disso a maior prova. À semelhança do que acontece com a Michelin, o Guia Repsol premeia anualmente os melhores restaurantes do país, enquanto promove diferentes roteiros. A marca até já chegou a estar em Portugal, mas sem nunca ter conseguido grande destaque. O objectivo agora é fazer tudo tal como acontece em Espanha, com inspectores recrutados por cá e uma gala para celebrar o meio. A correr bem, em 2025 há festa.

A novidade foi revelada esta semana, quando uma pequena comitiva portuguesa, encabeçada pelos chefs João Rodrigues (Canalha), Rodrigo Castelo (Ó Balcão) e Vasco Coelho Santos (Euskalduna), e da qual a Time Out fez parte, viajou para Cartagena, em Espanha, para assistir à cerimónia de entrega dos “sóis” (ou soles) aos restaurantes que se destacaram este ano – Begoña Rodrigo, do La Salita, restaurante em Valência com uma estrela Michelin, e que em Setembro fez parte do cartaz do Chefs on Fire, foi a grande vendedora ao conquistar o único três soles da noite, a distinção máxima.

“O Guia faz 45 anos este ano e festejamos não só o facto de termos acompanhado a gastronomia ao longo deste tempo, mas também o momento muito bom que o meio atravessa. E isso eu acho que é internacional e que em Portugal acontecerá o mesmo”, começa por dizer María Ritter, directora do Guia Repsol, numa breve conversa com os jornalistas, destacando os anos em que a marca apostou em Portugal entre 2000 e 2007 com uma edição própria. Depois disso, o Guia Repsol para Espanha ainda passou a incluir Portugal, mas só até 2015.

“Neste momento estamos com um guia muito poderoso e procuramos ampliar os horizontes. É algo parecido também com o que está a acontecer na gastronomia, em que vemos as fronteiras gastronómicas ampliarem-se. Nós acreditamos que o mais lógico e natural é que o guia comece a crescer. Então, é claro que está dentro dos nossos planos [ir para Portugal], mas ainda não tenho nada de concreto para dizer”, explica a responsável, garantindo que o trabalho já começou a ser feito, embora sem se querer comprometer com uma data. “Este é um sistema que já esteve em Portugal. Quando o guia existiu, eu ainda não estava, mas ainda vejo autocolantes [nas portas dos restaurantes] dessa altura”, acrescenta María Ritter, assegurando que “há estrutura” para que tudo aconteça em breve. “Nós temos a estrutura. Não é como se fossemos levar isto para o Vietname. Já estivemos em Portugal e conhecemos. É até natural irmos”, atira, de forma descontraída.

Para a directora do Guia Repsol, a parte mais importante do trabalho já começou e essa passa por envolver a comunidade gastronómica – também por isso o convite a chefs portugueses. “A melhor maneira de chegar a um lugar é através dos cozinheiros e das cozinheiras”, afirma. “O que fazemos é mapear o sector, passar tudo a pente-fino”, contextualiza. Para isso são fundamentais os inspectores que, ao contrário do que acontece com o Guia Michelin, são pessoas que às suas diferentes profissões acumulam as visitas anónimas a restaurantes. Em Espanha são, actualmente, 57. Em Portugal deverão ser pouco mais de uma dezena. “Eu nem gosto da palavra inspector, parece-me melhor um descobridor de algo do que um inspector”, defende Ritter, salvaguardando que todo o território português será batido, ilhas incluídas. “E depois há algo muito importante: os inspectores e inspectoras do Guia Repsol são do lugar onde inspeccionam e isso não se pode alterar, porque dá personalidade.” E exemplifica: “Os da Galiza são galegos, os da Extremadura são da Extremadura. Porquê? Porque são as pessoas que estão na rua, que conhecem os produtos, que conhecem os cozinheiros”.

Guia Repsol para Portugal será digital, mas terá gala local

Falta, agora, chegar a essas pessoas, mas María Ritter não está preocupada: “Sabes a quantidade de pessoas que há?”. “E insisto, aí vai ajudar muito a comunidade gastronómica.” A mesma comunidade para a qual a responsável quer contribuir de forma positiva, sem atiçar eventuais concorrências. É por isso, argumenta, que na gala do Guia Repsol todos os chefs sabem o que vão receber com antecedência. “Temos um carácter muito diferente do que podes estar a pensar”, diz em resposta à Time Out. “Nós criamos comunidade. Queremos valorizar. Não queremos que as pessoas venham aqui e não recebam nada. Não queremos essa competição brutal. Quando tu unes e a comunidade está unida, é muito mais potente e vai fazer muito mais diferença a nível internacional”, acredita, com a certeza de que a chegada do Guia Repsol a Portugal será acompanhada de uma gala anual, à semelhança do que acontece em Espanha. “Se entras para a lista, é preciso celebrá-lo. É preciso fazer com que as pessoas saibam. Porque se não há um encontro e, se as pessoas não sabem, para quê fazer uma lista? Há que festejar.”

Para Rodrigo Castelo, um dos grandes vencedores da primeira gala do Guia Michelin para Portugal, com o seu Ó Balcão em Santarém (uma estrela e estrela verde), a vontade de trazer também o Guia Repsol para Portugal “é o reconhecimento de que Portugal está a crescer gastronomicamente de dia para dia”. “Somos um país pequeno, mas de produto não devemos a nenhum outro país por maior que seja, porque temos rigorosamente tudo”, diz o chef. “É mais um guia que vem reconhecer o nosso trabalho e que nos ajuda também a comunicar”, conclui. Vasco Coelho Santos destaca ainda a importância dos roteiros que habitualmente a Repsol disponibiliza e que permite descobrir e dar espaço a mais restaurantes. “Fizemos parte durante tanto tempo que é muito importante agora voltar”, aponta o chef do Porto. 

Martín Berasategui e Pedro Subijana, dois pesos pesados da gastronomia espanhola, destacam ambos a relevância que o Guia Repsol tem em Espanha. Se o Guia Michelin tem um impacto internacional muito forte, o Guia Repsol mexe muito internamente. Os dois têm a distinção máxima nos seus restaurantes: três soles, que aponta a excelência. “É uma das noites mágicas que tem a gastronomia. É um guia que alegra, que contagia e que une os cozinheiros”, diz Berasategui, o chef que até ao final de 2023 chefiava a cozinha do Fifty Seconds em Lisboa. Já Pedro Subijana (três estrelas Michelin no Akelaŕe) garante que ser-se reconhecido pelo Guia Repsol “tem muito bom resultado”. “Qualquer reconhecimento que te façam quando fazes as coisas bem é bom e é positivo”, afirma. “Eu conheço Portugal, já fui muitas vezes, adoro o país, as pessoas, e come-se muito bem. Então, logicamente, esses reconhecimentos públicos têm que ser feitos públicos.”

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