A Apple TV+ é um serviço de streaming jovem (nasceu no final de 2019) e de catálogo limitado, mas ao contrário do que possa parecer isso não é uma desvantagem. Em época de abundância, os espectadores encontram aqui um porto seguro, que tenta ter uma oferta mais apostada na qualidade do que na quantidade. O foco são as produções originais, que a pouco e pouco vão tornando o serviço incontornável para quem gosta de boa televisão. Há de tudo, das séries de grande orçamento (destaque para The Morning Show) às sitcoms surpreendentes (olá, Ted Lasso), da ficção científica (ponto extra por Fundação, adaptação dos livros Isaac Asimov) às séries documentais de fôlego (1971: The Year That Music Changed Everything é uma pérola para melómanos). Feitas as contas, há 20 séries da Apple TV+ que tem de ver. Ei-las.
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Dantes, as produções como Sex/Life estreavam-se no cinema e levavam a classificação de pornografia softcore. Agora, andam pela televisão e pelo streaming e têm alibis “sociológicos” transparentes. É o caso de Sex/Life (Netflix), um festival de pinanço com uma leve desculpa de história de crise “existencial”. Billie Connelly (Sarah Shahi) é bonita e elegante, tem dois filhos, uma casa de sonho nos arredores de Nova Iorque, um marido modelo e uma vida confortável e calma. Só que, antes de se casar e assentar, Billie era uma galderiazona que, segundo a própria, se tinha “contorcido em 73% das posições do Kama Sutra” com toda a sorte de parceiros, até ter encontrado o marido perfeito.
E agora sente-se de repente insatisfeita e vazia, os apetites sexuais insaciáveis dos tempos de solteira e flausina voltam à superfície e só lhe apetece experimentar os 27% de posições do Kama Sutra que sobraram, bem como rever a matéria dada – na cama, na cozinha, no carro, na piscina, a fazer o pino à parede. Passado em casas que parecem hotéis de luxo, interpretado por um ramalhete de musculados panões e vistosas canastronas, e filmado como se fosse um anúncio de perfume caro, Sex/Life é de tal forma risível e inepto, que se torna num daqueles fenómenos “tão mau que é bom”.