Time Out Portugal
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Prémios Time Out 2021: os vencedores que nos salvaram o ano

Nem tudo foi negrume em 2021, um ano que dificilmente poderia ter começado pior. Recuperámos aos poucos e ainda fomos a tempo de brilhar. Estas foram as estrelas do ano, da gastronomia à cultura, das lojas à sustentabilidade.

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Dickens é um escritor natalício e a ele devemos parte do nosso imaginário colectivo para a quadra. A ideia de uma família unida, feliz apesar das adversidades, é um legado seu. Mas se o convocamos para aqui não é tanto pelo contributo dado para as celebrações modernas do Natal, é mais pelo início de uma frase que inscreveu na cultura popular a caligrafia vitoriana: “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos”. Ao longo deste século e meio, abundaram oportunidades para o aplicar às mais diversas situações – e 2021 é uma delas. É uma descrição rigorosamente resumida do que vivemos este ano. Começou mal, muito, muito mal, e nunca, até hoje, deixou de ser assombrado pelo espírito do Inverno passado. E no entanto melhorou. Melhorou muito. A reabertura das lojas, dos restaurantes, dos bares, das festas e dos festivais – da vida, enfim – foi num crescendo de entusiasmo e entrega que nos deu a sensação de estarmos a viver o melhor dos tempos. Como na Time Out estamos habituados a deter o olhar no lado positivo das coisas, também o faremos para este ano de experiências polarizadas. É hora de fazer o balanço e celebrar quem se destacou nas áreas que acompanhamos semana após semana, dia após dia. É hora de regressar aos Prémios Time Out, desta feita com 32 categorias. Ora então, os vencedores são…

Prémios Time Out 2021

Acontecimento do Ano: Chefs on Fire

Foi um balão de oxigénio num tempo estranho, uma bolha de amor – sim, até pode soar piroso, mas o número de abraços por metro quadrado não desmente. E antes que se apontem dedos, não entrava ninguém sem fazer teste (mesmo quem tivesse sido vacinado) e o número de infecções por Covid estava baixo. A terceira edição do festival gastronómico dedicado à cozinha de fogo aconteceu no timing perfeito. Foram dois dias de festa, com a comida no centro das atenções, pelas mãos de 14 chefs – uma vaca a rodar no fogo, um fire pit cheio de trutas e leitões, legumes ao lume e uma imensidão de possibilidades no prato – e música, com Dino D’Santiago e Clã a encabeçar o cartaz. No final, não houve fumo que atrapalhasse.

  • Cafés
  • Beato

Por vezes, há mudanças que vêm por bem. Foi isso que aconteceu ao Tati, depois de se transferir do Cais do Sodré para a Penha de França, em plena pandemia. Com a nova morada, o restaurante focou-se mais na comida e tornou-se num caso sério de criatividade, detalhe e consistência. Das mãos da chef argentina Romina Bertolini saem ora pratos de conforto, como as suas míticas empanadas, ora criações mais técnicas, como o pato curado com pistáchio. Os pratos na ardósia estão sempre a mudar, tal como a carta de vinhos, uma das mais seleccionadas no que aos vinhos naturais diz respeito. Acresce o ambiente de bar informal e o serviço amigável e conhecedor. Não há outro bistrô assim em Lisboa.

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  • São Vicente 
  • preço 3 de 4

Num dos bairros mais complicados para se comer bem em Lisboa, o Castelo, apareceu o mais ousado e original projecto do ano. Fruto da visão de um casal brasileiro-neozelandês, o SEM foi a mesa mais surpreendente do ano e, certamente, uma das mais saborosas. Estamos no terreno da cozinha de autor, muito técnica e estética, mas que nunca perde de vista o sabor. O restaurante só serve menu de degustação, mas no wine bar ao lado é possível pedir à carta, sendo que a comida sai toda da cozinha partilhada. Para além da comida, importa referir que o SEM tem subjacente uma política de desperdício zero, que se reflecte quer no espaço e nos materiais reciclados usados na decoração, quer no aproveitamento dos produtos comestíveis.

  • Português
  • Castelo de São Jorge
  • preço 2 de 4

O Velho Eurico anima a ideia de uma Lisboa mais autêntica – por oposição àquela cidade normalizada pelo gosto turístico, que florescia inexoravelmente no limiar de 2020, quando a palavra pandemia soava vagamente a uma délicatesse de fermentação lenta. É uma nova tasca antiga, ressuscitada por malta jovem que enxertou a tradição com técnica e talento. Uma espécie de arquétipo daquele lugar de petiscos, copos e convívio taberneiro que toda a gente lamenta que já não há – e como este, de facto, ainda não havia.

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José Margarido
Crítico Comer&Beber
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  • Coisas para fazer
  • Cais do Sodré

Um quiosque à moda antiga e como a cidade há muito não tinha. A comida é feita na cozinha da Taberna de André Magalhães e companhia e aqui as coisas são apenas finalizadas (o pão das sandes, por exemplo, aquecido numa pequena grelha). Mas mesmo assim parece um milagre logístico o que se faz em dois metros quadrados. Numa ardósia anunciam-se petiscos como peixinhos da horta, salada de polvo ou punheta de bacalhau, mais sandes de pernil fumado ou de lula frita. Um festival de petiscaria popular que nos faz suspirar por uma cidade mais autêntica e clamar por um destes quiosques em cada esquina.

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José Margarido
Crítico Comer&Beber
  • Cafés
  • Cais do Sodré

Não vivemos sem café, mas uma bica às vezes já não nos chega. É com alegria que vemos o café de especialidade ganhar terreno – há cada vez mais espaços em Lisboa para se estar e para se apreciar café. E a Baobá é talvez o melhor exemplo. Abriu há pouco tempo na Rua de São Paulo e deve o nome à Fazenda Baobá, no Brasil, em São Sebastião da Grama, no estado de São Paulo, de onde chegam os grãos verdes. A torra é feita neste espaço em Lisboa e tudo é explicado aos clientes com uma simpatia desarmante.

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  • Cais do Sodré

Javá é a palavra francesa que antigamente se usava para descrever uma grande festa. E, este Verão, foi isso mesmo que aqui aconteceu. Sufocados pela pandemia e a precisar de ar fresco, subimos ao terraço do Javá, no Cais do Sodré, para festejar a liberdade que nos foi dada depois de semanas de confinamento. A vista privilegiada sobre a cidade é um dos motivos para visitar o espaço, mas a carta é razão para ficar. Não faltam entradas, pratos para partilhar, veggies e saladas, os que vêm directamente do grelhador, acompanhamentos e, claro, sobremesas. Aos fins-de-semana há brunch.

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Teresa David
Jornalista
  • Bares
  • Lisboa

Há dois anos (com o devido desconto pandémico) que Peter O’Connor eleva a fasquia da mixologia lisboeta. Afinal, experiência no ramo é o que não falta a este irlandês especialista em whisky. Mas dentro do pequeno Onda Cocktail Room, na Rua Damasceno Monteiro, a estrela é mesmo o menu Flavour Discovery, um alinhamento de 16 receitas com o dedo de Daniel Zamith, outrora bartender do Bistrô 100 Maneiras. Quanto ao bestseller da casa, não restam dúvidas – quase toda a gente aqui chega para provar a famosa margarita fumada.

Menção honrosa: Gala Gala
Desde Junho que o Gala Gala dita o ritmo da Rua dos Douradores, com DJ sets, cocktails e uma selecção de máquinas de jogos arcade. Em suma, festarola até às três da manhã, todos os fins-de-semana, devidamente acompanhada por petiscos gulosos. O hot dog trufado e o mac and cheese são os mais populares.

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Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
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  • Noite
  • Cafés/bares
  • Lisboa

Abriu antes do Verão em Arroios e poucos são os dias em que a pequena esplanada, agora com um novo visual, não está animada. É difícil nomear o que lhe tem dado nome, talvez seja mesmo a receita de Ricardo Maneira, também conhecido por DJ Rycardo: aqui ouve-se música como em poucos sítios, de fio a pavio – entretanto, abriram até outros listening bars na cidade – e petisca-se com o melhor que a zona oferece. No final, ainda é possível comprar plantas, vinhos e azeite de pequenos produtores. E há uma mensagem a passar: a de que também um negro pode abrir um negócio e seguir o caminho que sempre ambicionou. Cláudia Lima Carvalho

Menção honrosa: MEL – Museu Erótico de Lisboa
O novo projecto do grupo Mainside (responsável pela Pensão Amor) acaba de se instalar no Cais do Sodré e ainda não teve tempo de aquecer a cidade – mas promete. Lá dentro escondem-se cadeiras baloiçantes, objectos sugestivos e paredes que são cartas de amor a Cicciolina. Não menos exuberante do que a decoração, há também uma carta de cocktails que vale a visita. Joana Moreira

  • Noite
  • São Vicente 

“Começas a dançar de máscara, quando dás por ti estás a foder de meias” – foi com pedaços de sabedoria como este que, durante quase dois anos, o Instagram do Lux assumiu contornos quase terapêuticos. Entretanto, apostou forte numa agenda de concertos e numa programação cultural diversa. Até que, a 1 de Outubro, reabriu como discoteca e desde aí a terapia tem sido outra. Lisboa regressou à sua pista de dança mais desejada, voltou a descer à cave e a perder-se nas horas e sem nunca ter de dançar de máscara.

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Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
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Festa do ano: Noite de 1 de Outubro

Dançámos, suámos na pista e palmilhámos a cidade de uma ponta à outra na noite de reabertura dos bares e discotecas. Achámos (sonhámos?) que a noite como a conhecemos estava de volta, mas, afinal, ainda não. Fomos noctívagos dançantes por pouco tempo. Num ano de poucas festas, a maior foi aquela: mesmo com filas intermináveis, esperas agonizantes e incoerências na mostra de certificados. A 1 de Outubro, a noite lisboeta voltou.

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Joana Moreira
Jornalista

Acontecimento LGBT+ do ano: Gayla

Era para ser apenas uma brincadeira, mas cresceu. A Gayla, um talent show em directo do Instagram de Raquel Tillo Clayton, surgiu para animar os dias mais cinzentos do último confinamento. De duas em duas semanas, a actriz organizou participantes para esta mostra de talentos inclusiva, com direito a júri, prémios, e uma vertente solidária, com a recolha de donativos para associações como a União Audiovisual ou a ILGA. Uma das edições chegou a ter 9 mil pessoas a assistir à celebração da comunidade LGBT de uma forma “casual, leve e divertida”, disse Clayton à Time Out.

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Joana Moreira
Jornalista
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Melhor novo evento: Night Stories

Este Verão, com a saudade dos convívios a moer-nos o juízo, a festa também se fez na nova Doca da Marinha, junto ao Terminal do Terreiro do Paço. Durante dois meses, o novo mercado nocturno da cidade – que deverá voltar para uma segunda edição em 2022 – dinamizou a frente ribeirinha todas as quintas-feiras, das 17.00 à 01.30. A programação, de entrada livre, deu-nos muita música, performances, street food e até uma feira de marcas independentes. Tudo isto e muitas outras surpresas numa área com cerca de 1600 metros quadrados, com 600 lugares sentados e capacidade para a circulação segura de duas mil pessoas. Quem lá esteve sentiu a esperança de um possível regresso à normalidade em forma de calor humano. Para os restantes, ficam os registos das enchentes.

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Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
  • Compras
  • Decoração
  • Estrela/Lapa/Santos

Se alguém tinha dúvidas de que era possível rechear uma casa inteira só com produtos portugueses, elas caíram por terra quando o projecto Santo Infante entrou em acção. A protagonista é Paz Braga, arquitecta que, nos últimos anos, construiu um generoso inventário de marcas e autores portugueses. Na pequena loja, na Avenida Infante Santo, reúne uns quantos – cerâmica, têxteis, tapeçaria, ilustração e muito mais. Em Novembro, abriu um espaço temporário na Rua de Santos-o-Velho. Mais do que fazer compras, as visitas são convidadas a subir e a conhecer os cantos a uma casa 100% portuguesa.

Menção honrosa: Depozito
O ano de 2021 entrava na recta final quando Catarina Portas e a Portugal Manual abriram portas à nova catedral do artesanato português. Debaixo do mesmo tecto, tradicional e contemporâneo convivem lado a lado, num espaço que também se quer de intercâmbio entre gerações de autores e artesãos. Lisboa dá as boas-vindas ao Depozito

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Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
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  • Coisas para fazer
  • Xabregas

Concertos, exposições, oficinas, mercados, exposições – a Casa do Capitão foi muito mais do que uma esplanada onde se ouvia boa música e se partilhavam bons petiscos. O pop-up no Hub Criativo do Beato, que começou em 2020 e voltou a abrir portas em Maio de 2021, recebeu quase 500 eventos só este ano. Respeitando o conceito de pop-up, a Casa do Capitão voltou a despedir-se de Marvila no final do mês de Outubro, mas promete regressar em 2022 após uma “obra de renovação e requalificação” do espaço. Como não consegue ficar parada muito tempo, a Casa do Capitão vai continuar a receber actividades culturais, pontualmente, durante os meses de espera.

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Margarida Coutinho
Digital Content

Disco português do ano: Badiu

Dino D’Santiago percebe o poder da palavra. Com a responsabilidade de dar ao filho um mundo mais justo, inspirou-se na jornada dos escravizados do povo Badiu, foragidos da ilha de Santiago, para contar histórias de pessoas invisibilizadas. Com uma produção poética, sem abdicar da doçura, transforma as angústias em canções de empatia e utopia. Badiu é um álbum urgente e precioso, com sons de resiliência e resistência. Um disco conectado à realidade, mas com a capacidade de sonhar um mundo melhor.

Menção honrosa: AuRora, de Gisela João
O melhor fado é assim. Sai das entranhas, sorve as seivas vitais, vai mais fundo e mais longe nas suas desnudas nuances. No terceiro disco, Gisela João estreia-se na composição e abre-se a novos horizontes musicais que lhe amplificam o assombro. AuRora é um palácio de prazer de uma intérprete inimitável.

Menção honrosa: Horas Vazias, de Camané
Quando Camané canta, nada mais importa. Com uma ternura tectónica e imperturbável elegância, carrega o peso do mundo em cada palavra. No primeiro álbum após José Mário Branco, não perde o cordão da sua memória e mentoria. Entre clássicos, fados tradicionais e inéditos, ouvi-lo é divino.

Ana Patrícia Silva
Jornalista de Música, Time Out Porto
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Peça de teatro do ano: Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa

Sara Barros Leitão “rouba” o título de um capítulo das Novas Cartas Portuguesas para criar um monólogo sobre a história da formação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal. Pelo meio questiona o lado menos limpo desse trabalho: a precariedade, a desigualdade de género, os abusos laborais e o “privilégio de classe” que o confinamento deixou visível. Se a contemplação do belo é, por vezes, suficiente, também é bom que nem toda a arte (teatral ou não) se resuma a isso. Joana Moreira

Menção honrosa: Juventude Inquieta
Decorrido mais de meio século, a mensagem de A Cidade das Flores revela-se tão necessária quanto à data da sua publicação, em 1959. Foi a partir dessa obra de Augusto Abelaira que Joana Craveiro deu vida a uma Juventude Inquieta porta-estandarte da resistência e da luta activa contra os sistemas autoritários. Ancorada num extenso trabalho de campo, a fundadora do Teatro do Vestido animou-nos o espírito, para que possamos ganhar amanhã as batalhas que ontem perdemos. Raquel Dias da Silva

Menção honrosa: Pais & Filhos
Pedro Penim partiu do romance de Turgueniev, juntou-lhe leituras feministas e queer e pontuou tudo com um choque geracional para criar uma peça que questiona o conceito clássico de família (e pondera até a sua abolição). Escrita e encenada pelo novo director do Teatro Nacional D. Maria II, Pais & Filhos inaugurou a temporada do São Luiz e esgotou num ápice (fora as sessões canceladas por casos de Covid-19). Enquanto não volta aos palcos, vale a pena apanhá-la online. Joana Moreira

Filme português do ano: Diários de Otsoga

Não foi por pose “desconstrucionista” ou para armar ao pingarelho de “vanguarda” que Diários de Otsoga é contado de trás para a frente. Foi a forma que Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro arranjaram para dar expressão cinematográfica à perturbação na percepção do tempo e no normal decorrer do quotidiano causados pela pandemia. Rodado em simulação de confinamento, em 22 dias, numa quinta perto da Praia do Magoito, a fita fica como uma das mais originais, desconcertantes e menos crispadas que a Covid-19 gerou.

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Série portuguesa do ano: Doce

A história das Doce, o quarteto feminino que, das canções à apresentação em palco e à imagem pública, mexeu de forma única com a música popular e o Portugal do pós-25 de Abril, é ao mesmo tempo o retrato de um país no início de uma acelerada mudança política, económica, de costumes e de gostos nos anos 80. Protagonizada por quatro actrizes impecavelmente metidas nas suas personagens, Doce mostra como se faz boa ficção usando matéria bem portuguesa e com grande ressonância na nossa memória colectiva.

Exposição do ano: Rapture

Quando escrevemos que “Rapture” foi a exposição do ano, não significa obrigatoriamente que tenha sido a melhor. Apenas que foi a que mais marcou a cidade e o país neste ano. Uma daquelas raras exposições-evento, que levou milhares de pessoas, incluindo muitas que não costumam pisar museus, à Cordoaria Nacional para ver a obra de um dos mais mediáticos artistas contemporâneos, o chinês Ai Weiwei, que veio morar para Portugal e colaborou com artesãos nacionais. Foi por isso que, na semana da inauguração, lhe demos honras de capa. É por isso que, agora, a voltamos a distinguir. Luís Filipe Rodrigues

Menção Honrosa: Tudo O Que Eu Quero — Artistas portuguesas de 1900 a 2020
De Junho a Agosto, a Gulbenkian reuniu cerca de 240 obras de 40 artistas portuguesas. Helena de Freitas e Bruno Marchand, curadores da exposição “Tudo o que eu quero”, seleccionaram trabalhos de Helena Almeida, Paula Rego, Aurélia de Sousa, Lourdes Castro, Joana Vasconcelos e Grada Kilomba, entre outras, para uma mostra que se integra no movimento de reparação do histórico apagamento das mulheres no mundo das artes plásticas. Agora, a exposição mantém-se, mas online, na plataforma Google Arts & Culture. Joana Moreira

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  • Museus
  • Belém

Será que 2021 foi mesmo o ano do maat? Ainda ensombrado pela pandemia, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia mexeu-se bem, a começar pelo momento em que convidou lisboetas e visitantes a experimentarem uma sessão de terapia. Sanatorium, a instalação performativa de Pedro Reyes, assinalou dez anos em Lisboa e abriu alas para outros momentos na agenda do museu: O Barco/The Boat, de Grada Kilomba, integrado na BoCA, a exposição DIA, de Carsten Höller, que ainda pode ser visitada, a abertura do maat Café & Kitchen e, claro, a habitual celebração de aniversário que, este ano, contou com um mercado de produtores.

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Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa

Intervenção de arte urbana do ano: MURO – Festival de Arte Urbana

Não é apenas uma, mas um ecléctico conjunto de criativas obras de arte urbana. A 4.ª edição do MURO pintou no Parque das Nações, deixando um rasto de 25 propostas espalhadas por três núcleos da freguesia, sob o mote “O MURO QUE NOS (RE)ÚNE”, em torno dos temas da multiculturalidade, cultura urbana e sustentabilidade. Um MURO erguido para unir e reunir lisboetas e visitantes, promovendo mais uma vez a inclusão e a arte para todos, com a atenta curadoria da GAU – Galeria de Arte Urbana, a entidade municipal responsável pela promoção do graffiti e da street art na cidade há mais de dez anos.

Menção Honrosa: EDIS ONE
O seu projecto Original Extinction Art Project, de alerta para as espécies em vias de extinção, ganhou este ano uma nova dimensão: um mural de 20 metros pintado no jardim da Biblioteca de Alcântara para sensibilizar os lisboetas para a necessidade de protecção dos nossos golfinhos, realizado em parceria com a iniciativa Golfinhos do Tejo, da ANF|WWF.

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Renata Lima Lobo
Jornalista
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Festival do ano: Festival Iminente

O Panorâmico de Monsanto já era pequeno para o Iminente. Em Setembro, o festival mudou-se de armas e bagagens para a Matinha, ganhando uma vista desafogada sobre o rio e um recinto suficientemente amplo para o convívio folgado que os tempos pandémicos demandam. Comer ou beber entre concertos não foi fácil, com uma aplicação que falhou, levando a alguma desorganização. Ainda assim, valeu a pena pela música, pelas performances e pelo trabalho resultante dos workshops dinamizados pelo festival com artistas e populações locais de quatro bairros lisboetas: Quinta do Lavrado, Alta de Lisboa, Bairro do Rego e Quinta do Loureiro.

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Joana Moreira
Jornalista

Inovação do ano: Circuito Lisboa

Tudo começou em 2020, quando 27 salas de música ao vivo de todo o país se uniram para lançar a campanha/ manifestação #aovivooumorto, que apelava à protecção e valorização de um dos sectores que mais sofreu com a pandemia. Por trás da iniciativa estava a Circuito, hoje uma associação que congrega os principais espaços de concertos e clubbing de Lisboa, estimulando uma co-existência e uma promoção em rede num período em que este sector continua fragilizado, apesar de ser um dos pilares do tecido cultural da cidade e do ecossistema da indústria da música. Entre Maio e Junho deste ano, a Circuito impulsionou, com o apoio da autarquia, o regresso à actividade de 12 salas da cidade, com quase 500 artistas e mais de 100 eventos. Gonçalo Riscado, da CTL (Musicbox, Casa do Capitão), é o rosto da associação em Lisboa.

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Herói da Sustentabilidade: Andreas Noe

Natural de Konstanz, na Alemanha, Andreas Noe, mais conhecido por The Trash Traveler, mudou-se para Portugal há cerca de três anos. Desde então, o biólogo molecular não só nos tem agraciado com músicas de intervenção bem-humoradas, que partilha amiúde nas suas redes sociais, como tem corrido a costa, de norte a sul do país, para manter activa a luta contra o plástico nos oceanos. Este ano, além de levar o documentário da sua Plastic Hike a escolas e festivais de cinema, juntou mais de 600 pessoas e 70 organizações não governamentais na recolha de um milhão de beatas de cigarros. Mais uma acção digna de nota – e de um dos heróis globais apontado pela Time Out Global na lista dos 50 Future Makers.

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Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa

Lugar sustentável do ano: Cooperativa Rizoma

Foi em Fevereiro deste ano que nasceu a Rizoma, uma cooperativa que está a germinar em várias frentes e que começou com uma mercearia comunitária num espaço ainda provisório, no Beco do Rosendo. Instalações cedidas pela Renovar a Mouraria, onde floresceu esta “mini-Rizoma” com produtos a preços justos, exclusiva para membros, com 300 variedades de produtos regionais e sazonais, de 64 produtores ecologicamente responsáveis. Um modelo que querem ver replicado noutros territórios, por outras cooperativas, que podem contar com a ajuda da Rizoma para tornar o mundo mais sustentável. A Cultura ou mesmo a Habitação são outras secções “rizomáticas” que estão nos planos da cooperativa.

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Renata Lima Lobo
Jornalista
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Evento sustentável do ano: Velo-city 2021

Após ter sido, em 2020, Capital Verde Europeia, este ano Lisboa foi uma espécie de capital da bicicleta à escala planetária: entre 6 e 9 de Setembro, recebeu a Velo-city 2021, a maior conferência mundial de mobilidade em bicicleta que, todos os anos, desde 1980, reúne centenas de especialistas na área do desenvolvimento urbano sustentável. Na FIL, mais de mil participantes debateram temas como diversidade de bicicletas e mobilidade urbana; economia e turismo; reestruturação das cidades e política; construção comunitária, co-criação e inclusão; e saúde e resiliência climática, num evento que por cá foi co-organizado pela Câmara de Lisboa, a Federação Europeia de Ciclistas e a EMEL.

Menção honrosa: Festival Umundu Lx
Palestras, filmes, oficinas, visitas-guiadas e exposições, tudo gratuito. Entre 30 de Setembro e 5 de Outubro, a segunda edição deste festival trouxe à cidade um mundo de eventos, estendendo-se também para o mundo digital, num total de 90 iniciativas. O festival que incentiva os participantes a serem agentes da mudança, e a viverem de forma proactiva em defesa do ambiente, deu mais uma vez visibilidade a projectos na área da sustentabilidade, entre temas como “Restauração de Ecossistemas” e a “Justiça climática e social”. E no último dia teve lugar o Mercad’Umundu, no Jardim do Príncipe Real, com a presença de comerciantes de produtos alternativos e de comércio justo e sustentável.

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Renata Lima Lobo
Jornalista

Mercado de rua do ano: Mercado de Produtores da Comida independente

Mercados há muitos, mas nenhum como este promovido pela Comida Independente, fundada por Rita Santos. Começou no ano passado e desde então que aos sábados a Praça de São Paulo se tornou palco de romaria para todos aqueles que gostam de saber sempre o que estão a comprar. Há bancas fixas, mas a graça deste mercado está também na rotatividade – não há um sábado igual. Farm to table e sazonalidade são dois jargões muito usados hoje na gastronomia, e nem sempre nos termos certos, mas a verdade é que aqui ganham forma. Faltam-nos mais mercados assim, onde é ainda possível comer e conhecer projectos que nos deixam de água na boca.

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Acontecimento do ano para miúdos: Ciclo Festa de Desaniversário

A história é universal. Uma menina com resposta sempre pronta vê-se de repente, por culpa da sua insaciável curiosidade, rodeada de maravilhas que nunca viu, com um rol de novas perguntas por fazer. Assim nos sentimos, grandes e pequenos, com o ciclo promovido pela Fábrica das Artes, que se inspirou nas obras de Lewis Carroll para criar não um mas vários escapes à angústia de sucessivos confinamentos. Além do convite a novos criadores para a infância, que pensaram uma instalação e quatro espectáculos portáteis, houve cafés filosóficos, uma curta-metragem, um projecto especial do Conjunto Cuca Monga, o videojogo Do outro lado da toca e uma verdadeira festa ao ar livre.

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Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa

Herói local do ano: Chelas é o Sítio

Podíamos cair na tentação de dar este prémio a Sam The Kid, a cara mais conhecida desta nova associação que quer valorizar o bairro de Chelas, fazendo uma espécie de rebranding do topónimo. Mas há outras caras que trabalham lado a lado com o músico português, nesta missão de eliminar preconceitos e promover o orgulho dos habitantes por este território. Como Nuno Varela (Hip Hop Sou Eu), Adriano Finuras (Associação Torre Laranja), Ricardo Gomes (Masterfoot) e Zé Silva (Chelas Cuts), os fundadores da associação que anda a puxar pelo potencial de Chelas. As iniciativas já são muitas, como uma parceria com o Rock in Rio que resultou no programa cultural Prata da Casa, na Casa da Pedra; ou o podcast TV Chelas no YouTube, rede social onde também ocuparam o canal da Antena 3 com música nos palcos do bairro. Se não souber bem onde fica Chelas, Vhils partiu pedra para dizer que Chelas é o Sítio, na Rua Salgueiro Maia.

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Renata Lima Lobo
Jornalista
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  • Atracções
  • Parques e jardins
  • Marvila

No final do ano passado, um rebanho de ovelhas foi pastar a um verde prado no Parque da Belavista. Moradoras na Quinta Pedagógica dos Olivais, têm por missão a manutenção da infra-estrutura verde, assim como reduzir o esforço humano ou também o consumo de energia associados ao corte tradicional. Este Verão, o prado ficou amarelo, qual planície alentejana nos meses quentes, mas tudo faz parte do projecto da União Europeia LIFE LUNGS, aqui coordenado pela Câmara Municipal de Lisboa. Foi numa área do Parque da Belavista Sul que se instalou um prado de sequeiro biodiverso – culturas que brotam em terrenos não regados – que acompanha o ciclo natural das estações, poupando água, um bem essencial que é preciso gerir com cuidado.

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Renata Lima Lobo
Jornalista
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